Até ontem eu pensei que estivesse tudo bem. Olhei pro lado e tudo estava no mesmo lugar. Dentro de mim, nem um pio. Ou melhor, eu cheguei a ouvir uma voz baixinha como se mal quisesse ser ouvida dizendo: “não mexe aqui hein, tá no lugar”. Eu quase acredite, tudo igual, silêncio, melancolia, vazio. Angústia. Aquela mesma angústia que me acompanha desde os 7 anos e eu não sei bem onde nasceu. Coisa de menina inquieta que pensa demais, coisa de criança dessa geração que agora já nasce sabendo, coisa de irmã mais nova que é criada com menos mimo, coisa de gente que já aflorou a criatividade desde cedo, ah não, já sei – coisa de menina questionadora. Coisas e mais coisas que nunca me trouxeram respostas.
É angústia mesmo. Aquilo que parece esvaziar a gente por dentro, ou virar do avesso. Que a noite não dá trégua e vem tantas e tantas vezes do nada, ou do tudo. Eu sofro de angústia. Uhum, mesmo sendo a Amanda das borboletas, a “serena” ilustradora, a molamanda, a menina da fala tranquila. Sofro de angústia desde bem pequena e nunca soube nem entendi de onde vinha essa dor que me abraçava, geralmente a noite, e que por centenas de vezes me convidou a escrever. Escrever e escrever como se a folha de papel fosse o único meio de sentir algum alívio naquele momento. Não sei de onde isso surgiu só me lembro de bem nova já precisar compartilhar com meus diários o que eu sentia e pensava sobre certos fatos, como eu estava naquele dia e o que eu queria ser quando crescer.
Nossa eu queria ser tanta coisa, já me vi de tantas formas…Uma cabeça que só fazia imaginar e imaginar e voar pra muito longe. Talvez isso alimentasse ainda mais minha angústia, querer ser tantas, me ver em tantos lugares diferentes. Talvez se eu pensasse menos…será? O fato é que fiz 30 em 2020 e nunca mais vou me esquecer da sensação estranha de não saber ao certo onde eu estava no tempo e que diabos uma pandemia queria nos ensinar. Cansei de buscar ensinamento, cansei de tentar ver o lado bonito e perdi as contas de quantas noites dormi angustiada. Muito angustiada, por não conseguir mudar nada numa situação como essa. Por quase perder meu dom da imaginação. Por temer a morte, por ter pavor de imaginar meus pais contaminados, por não me anestesiar com as vidas perdidas. Angústia virou mato, multiplicou, triplicou, tomou todo meu corpo.
Esse é um desabafo que não tem intenção alguma de romantizar minhas dores. É uma equação simples de palavras que conclui que: não, não tá tá tudo bem, em lugar nenhum, em lar nenhum, em coração nenhum que ainda tem sensibilidade. É impossível estar tudo bem vivendo essa era, especialmente no Brasil, tendo lucidez e um resto de coração que bate esperançoso. Se você também está se sentindo especialmente estranha nos últimos dias, semanas…com uma angústia insistente; queria te dizer que você não está sozinha. Tá foda mesmo. Tá todo mundo precisando de uma dose extra de gentileza e carinho. Dê um colinho. Receba o meu carinho hoje, meu abraço forte na sua imaginação, meu colinho pras suas angústias, seja quais forem. Escreva, chore se for preciso, agradeça por estar viva, seja o mais honesta que puder com você mesma e seus sentimentos. E quando parecer que suas angústias são ridículas diante de todo esse cenário, ainda assim não se negligencie. Tá pesado mesmo. E não é só com você tá?
E sim, dias melhores virão e a gente não pode deixar de acreditar nisso, mesmo. Vacinando, lendo verdades e nos amparando, vamos vencer. Eu ainda quero viver tudo que aquela cabecinha de criança que não temia nada imaginou. E tenho certeza que você também. E ó: a gente vai viver!
Com todo meu amor, Amanda.