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o que eu faço com essa raiva?

por | jul 1, 2021

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Ouça esse texto: 

Agora que ela não veio de passagem e tá trazendo uma mala cada vez mais pesada? Esse é texto sobre raiva, esse trovão que acompanha todo mundo em diferentes momentos da vida, as vezes de forma mais presente que em outras mas que especialmente agora tá igual visita chata no fim da festa em que você só quer se jogar na cama e lavar a louça no outro dia sabe? A raiva sempre me acompanhou, mesmo eu sendo a Sandy poço de serenidade e calma que levita ao longo do dia. Sintam a ironia, por favor, e sim, se você ouve o Pitoresca já sabe que eu não sou essa pessoa. Aliás o nosso mote de inauguração do pod desde o início e que uso até hoje no meu site é Somos bem diferentes do que parecemos ser, ufa. E todo mundo é. Ninguém é esse recorte que a gente vê e se relaciona só em alguns setores da vida, principalmente no instagram.

Eu queria fazer uma enquete: como vocês estão fazendo para lidar com a raiva atualmente? Porque antes eu tirava de letra. Primeiro porque eu já sábia quando ela surgia, meus gatilhos já eram velhos conhecidos. Aí eu tinha respiração, leitura, yoga, escrita no diário, análise, conversa em casa, uns palavrões, choro, banho de erva, crossfit, dança, suor, muito suor. Um kit de estratégias na manga pra me salvar de mim mesma – ou pra essa expressão não pesar muito o clima – pra buscar o equilíbrio tentando trazer a leveza e o autoconhecimento que tanto desejamos. Só que até dessas palavras eu estou com certo ranço. Não tô conseguindo ter leveza mais, e não é o Brasil que não deixa, é que tem um monstro arrastando nosso país pras trevas e nem vacina pra todos foi capaz de cuidar. Ouvi uma fala da Leandra Leal no programa Altas Horas e me vi tanto nela, é exatamente o que sinto e o que gostaria de dizer.

E agora o que a gente faz com essa raiva que não trata só das nossas questões íntimas? Que tenta se esconder de mansinho em algum canto pra não sentir vergonha ao se ver ao lado do privilégio de não ter perdido um pai, uma mãe e alguém que amo muito? E se você perdeu, meus mais sinceros sentimentos. Uma raiva que fez morada, chega logo pela manhã, mesmo sem ler notícias afinal nem precisa, esse pesadelo é real. Como fazer quando nossas cartas na manga por uma busca do equilíbrio parecem até tolas? Olho pro lado e tenho visto olhares exaustos, mesmo com boa saúde na família. Ninguém aguenta mais dizer que não aguenta mais. É raiva, ela faz isso com a gente também, dá uma ressaca, uma impaciência. E não é porque estou fazendo uma obra e vivendo um período de maior pressão na minha vida, é porque tô aqui no Brasil de 2021 mesmo, ou seria 2020, ou seria idade média? Tô perdida.

Até de visita chata no final da festa já estou morrendo de saudades. Nunca encontrei meus amigos num grupinho mesmo que “pequeno e de gente que tá se cuidando” é assim que vejo as pessoas dizendo por aí né? Não nem isso, nunca relativizei e vou ser bem aberta, eu vejo stories de instagram e prefiro seguir salvando minha família até todos vacinarmos. Nunca fui num aniversarinho de parentes, tem bebê que era de colo e já corre e eu tô perdendo esse show. Mas pelo menos tá todo mundo vivo. E sou muito grata por isso…Mas ainda assim eu sinto raiva, admito, e a culpa não é do noticiário, a culpa é de muitos (pra não dizer dezenas de milhões) terem relativizado o MAL em caixa alta e termos chegado até aqui…

Há algumas semanas atrás planejando os novos produtos e cuidando do meu trampo com toda a minha alma, como faço há anos, me senti lunática. Eu pensei sinceramente, porque que eu tô fazendo isso? Copo, borboleta, aquarela… o que que eu tô arrumando meu deus? Olha o mundo como está. Até quando eu vou ter inspiração? Até quando me sentirei motivada?  Até quando as pessoas vão se interessar por isso? Até quando vou me sentir confortável pra falar do meu universo lúdico no atelier e loja AM sem me sentir sem graça? Não sou mais produtiva como antes, nem otimista como antes. Pela primeira vez em toda a minha vida eu não soube onde buscar motivação e me deu uma vontade súbita de parar por ali. Eu sempre amei escrever e o podcast me ensina toda semana a temer cada vez menos frustrar as pessoas, e talvez eu esteja te frustrando agora pois não vou concluir dizendo que nosso sonho vale a pena e por isso eu não abro mão de sonhar, apesar de eu ainda acreditar nisso. Tenho algo mais urgente a dizer: fora genocida, vacina salva vidas.

(Respiração profunda) Me deu até vontade de entoar o mantra ohm. Falar esse conjunto de duas palavras me alivia, gritar então, opa. Recomendo.
Concluo fazendo um gancho com a CALMA, o que mais tem me ensinado a viver meus dias, e eu não sou boa com ela tá? Sigo aprendendo e errando de monte ainda, por isso preciso estampá-la em todos os meus produtos, pois continuo criando o que desejo usar e necessito lembrar toda hora. Essa semana mesmo, lancei a coleção de copos e um deles tá lá, nos lembrando de que a CALMA pode ser um caminho. Arrisco dizer que o melhor deles, um caminho que realimenta minha esperança cansada doida pra lavar uma pia de louça suja num fim de festa feliz cheia de beijos, dancinhas e abraços. E esse dia vai chegar…

A sonhadora cansada mais ainda resistente que existe em mim saúda a sonhadora cansada resistente que habita em você. Não vamos desistir tá? Não estamos sós, tivemos que soltar as mãos pra passar álcool em gel, mas logo daremos as mãos de volta.

Com todo meu amor, Amanda.

Amanda Mol

Artista visual e designer de produtos do cotidiano com estampas autorais! Nasci e moro no interior de MG onde fundei a Brava Galeria (@bravagaleria)! Amo compartilhar meus processos criativos no @molamanda e escrever sobre esse tema na minha newsletter quinzenal. Arte pra mim é fôlego e uma forma viciante de transformar nosso caos em poesia!

* CUPOM DE LEITORA: AMBLOG

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Amanda Mol

Artista visual e designer de produtos do cotidiano com estampas autorais! Nasci e moro no interior de MG onde fundei a Brava Galeria (@bravagaleria)! Amo compartilhar meus processos criativos no @molamanda e escrever sobre esse tema na minha newsletter quinzenal. Arte pra mim é fôlego e uma forma viciante de transformar nosso caos em poesia!

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