Vendo memórias das minhas viagens me dei conta que coleciono fotos de sorvetes, não sei se faz sentido mas elas me trazem uma sensação boa de alegria e nada a preocupar. E aí comecei a pensar o que mais colecionei ao longo da minha vida e acabei perdendo o sono! Abri meu caderno que fica na banqueta ao lado da cama e comecei a escrever até quase 2 da manhã de uma madrugada de quarta-feira. Sabe de uma coisa? Resolvi trazer essas palavras pra cá.
Coleciono atrevimento desde bem pequena. Audácia de querer me vestir sozinha e escolher as próprias combinações desde 3 anos, eu era um cisco e já estava afim de pensar. No embalo do pensar, coleciono muitos pensamentos – um emaranhado deles, chega a dar nó, embola igual corrente fininha, as vezes parece até novelo. Num blá, sol, lá, mi, dó que orquestra sem fim sem um só maestro em mim.
Coleciono diferentes gostos musicais, sou do rock, do samba, do bowl tibetano ao axé. Uma erudita funkeira, com samba pronto no pé. Cantei Avril, Blink, Luxúria, Pitty, Nx Zero e fui até no show do Simple Plan. Ouvi trance, chill out, umas batidas estranhas e quase tatuei carpe diem. Dancei Luka, Viny, P.O Box, CPM 22, Detonautas, Sandy e Júnior, Bonde do Tigrão, É o Tchan, Xuxa, Mamonas e um tanto mais nestes 30 que habitam em mim. E Charlie Brown e ainda não saiu da minha lista top five.
Colecionei amores platônicos, muitos deles (possíveis e delirantes) inclusive o Thales fez parte do meu acervo de ilusões. Tem coisa que faz sentido colecionar, viu? Colecionei diários secretos, brincos hippies, medos e esmaltes coloridos. Fui esotérica, emo, hippye, punk, nerd, tímida, de poucos amigos, de muitos amigos, de quase ninguém.
Colecionei colares, olhares e uma certa solidão. E quando escrevo sinto que que não falo só sobre mim, estou quase certa que não. Colecionei pesadelos que me assombraram ao acordar, coleciono uma vontade gigante de escrever sobre as lacunas que insistem em me fazer rimar. Colecionei culpa, choro engasgado, dúvidas e medo de elevador. Colecionei muito amor, tanto que eu transbordei, e finalmente entendi que posso amar de volta também. Colecionei sextas, sábados e domingos sem sair de casa pra então notar o mundo enorme que existe tão perto e o tanto de ruído que eu já posso deixar pra lá
Colecionei fé, sol, rede e sossego. Já tive cabelo quase raspado, hoje a leoa tem até juba, meu nome é desassossego. Não posso nem pensar em parar, morro de medo de avião. E ainda assim em insisto em ver meus pés fora do chão. Ao mesmo tempo esses pés vão agarrando como raiz. Colecionar perspectivas me parece uma boa saída de não viver por um triz.
Por fim fiz uma lista de coisas que já colecionei: estrelas no teto do quarto, vale transporte, cartão telefônico, nomes trocados, noites vazias, riso amarelo, medo do relógio, insônia, surtos criativos, sofrimento por antecipação, cafés com pão de queijo, palavrões, piercings, papéis de carta, cortes decabelo, coreografias nunca dançadas, Melissas, melhores amigas desaparecidas, miçangas, tatuagens, deboche, burpees, crises de riso, tapetes, tentativas, diários, afilhados, teimosia, poemas malucos, chás com data de validade vencida, esconderijos, saudades, desconfiança, ovo frito no almoço, angústia, taças de vinhos com Caetano, bilhete de trem, fotos de Paris, tazos, planos pro futuro, link de airbnb, palavras.
E agora eu tenho que pausar, pra buscar respiração
Não posso dizer outra coisa: só você sabe o quanto vale a sua coleção.
Com todo meu amor,
Amanda.